Há indicação clínica do consumo de probióticos em doenças inflamatórias do intestino?
Autor: Letícia De Nardi Campos**
As doenças inflamatórias intestinais (DIIs), que incluem a doença de Crohn, colite ulcerativa e pouchite, são desordens crônicas recorrentes de causa desconhecida, caracterizadas por inflamação do trato gastrintestinal. Enquanto a colite ulcerativa é limitada ao cólon, a doença de Crohn pode estar presente em todo o trato gastrintestinal, da boca ao ânus. Já a pouchite é uma inflamação inespecífica da mucosa intestinal do íleo, associada ao desequilíbrio da flora microbiana.
Considerando que as DIIs podem ocorrer como uma resposta alterada da microflora da mucosa intestinal, a introdução de probióticos como agentes terapêuticos pode equilibrar a microbiota, melhorando a barreira epitelial. Esta barreira, por sua vez, pode modificar a resposta do sistema imune com conseqüente atenuação da resposta inflamatória intestinal (2). Assim, para auxílio no tratamento e prevenção das DIIs, os probióticos poderiam atuar em três distintos mecanismos:
- Probióticos podem bloquear os efeitos de bactérias patogênicas por meio da produção de substâncias bactericidas e da competição por aderência no epitélio intestinal
- Probióticos podem regular a resposta imune por meio da imunidade inata por modulação das vias de sinalização inflamatórias (receptor toll-like)
- Probióticos podem regular a homeostase do epitélio intestinal
O uso de probióticos em DIIs é mundialmente estudado. No entanto, existem diversas lacunas a seu respeito, principalmente devido à grande variedade de cepas probióticas, modo de administração (sozinhas ou associadas – mais de uma espécie ao mesmo tempo), população analisada, bem como a gravidade da doença.
Por todas estas questões, pesquisadores da Universidade de Yale (Estados Unidos) resolveram publicar, em julho de 2008, as recomendações para o uso de probióticos, ou seja, em quais doenças o uso de probióticos é recomendado e qual o grau de recomendação. Com base nos estudos disponíveis na literatura, as recomendações foram divididas em A, B e C.
- Recomendação A: fortemente positiva, com base em estudos bem conduzidos e controlados.
- Recomendação B: positiva, porém alguns estudos sem efeito.
- Recomendação C: algum indício positivo, porém número de estudos limitados e evidências insuficientes para recomendação A ou B.
- Recomendação A: diarréia aguda infantil, prevenção de diarréia associada ao uso de antibiótico, prevenção e manutenção da remissão da pouchite (ou bolsite) e prevenção e tratamento de eczema atópico associado à alergia ao leite de vaca
- Recomendação B: doenças inflamatórias intestinais e síndrome do cólon irritável (somente para Bifidobacterium)
- Recomendação C: colite ulcerativa e indução de remissão/manutenção da doença de Crohn (resultados também encontrados em duas revisões sistemáticas do Instituto Cochrane).
Em relação à enterocolite necrotizante, os autores ressaltam que não há estudos suficientes para se fazer uma recomendação, mas os existentes até o momento parecem ser promissores.
O ponto forte do tratamento com probióticos é que eles são bem tolerados pelos pacientes com DIIs, de todas as idades, e não aumentam os sintomas ou interferem na terapia convencional medicamentosa. Os estudos disponíveis até o momento indicam que os probióticos ocasionam melhora na qualidade de vida dos pacientes com DIIs.
Letícia De Nardi Campos**- É nutricionista do Ganep Nutrição Humana. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Gastroenterologia da FMUSP. Pesquisadora do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia (METANUTRI - LIM 35 - FMUSP). Especialista em Nutrição Clínica pelo GANEP.
Fonte: Nutritotal – www.nutritotal.com.br
Do blog - Atenção: Este texto não serve como indicação dietoterápica, é somente explicativo e informativo. Para maiores detalhes, consulte seu médico, e para prescrição dietética, consulte seu/sua nutricionista.
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